Com o crescente acesso a informação, e aumento na polarização da ideologia política na sociedade, criou-se a ideia de que a mídia possui duas vertentes que as divide: a esquerda e a direita. O problema é que, diferente dos veículos de comunicação de alguns países, os brasileiros não dão o seu posicionamento de forma clara e objetiva, mas trabalham apenas com indícios que são livres para interpretação por quem os consome.
É fato que o jornalismo independente vem ganhando espaço na internet, e com isso o posicionamento político é abertamente divulgado. Isso acontece com veículos nacionais, como o Catraca Livre, e segue com os internacionais, como o The Guardian. Mas não são estes os veículos alvo desta discussão, o que deve ser analisado são os que dizem pregar por um jornalismo imparcial e de acordo com os fatos, como o G1 e a Veja, por exemplo.
O G1, um portal de notícias da Globo, é o que mais se identifica com essa classificação. O veículo é conhecido por apoiar políticos e partidos conservadores, e por isso suas notícias quase sempre favorecem os mesmos (pelo menos ao entender de quem acompanha). Mas recentemente o portal de notícias está produzindo algumas colunas, crônicas e reportagens que atendem as pautas de quem se identifica com a esquerda. Um caso recente foram as produções que tratavam da polêmica acerca da gordofobia, questionavam o trabalho do prefeito de São Paulo e davam notícias sobre a operação lava jato questionando o trabalho dos juízes.
A questão é que, mesmo com esse tipo de pauta, o portal continua com sua linha editorial, sem deixar claro que está passando por mudanças. E quando são questionados sobre qual linha querem seguir o discurso é sempre o mesmo clichê: a busca por um jornalismo de qualidade e que atenda o maior número possível de pessoas.
A revista Veja possui casos mais visíveis do que o G1, e dentro dessa questão devem ser mencionadas duas de suas capas. A primeira acusa claramente os ex-presidentes Lula e Dilma, com o título “Eles sabiam de tudo”, se referindo ao esquema de corrupção na Petrobrás. A segunda capa traz uma imagem do deputado Jair Bolsonaro com os dizeres “A ameaça Bolsonaro”, analisando os riscos deste político considerado um “presidenciável”. Analisando estas duas produções não é possível destacar o posicionamento político da revista, já que ela ataca os políticos que mais entram em conflito no país, e completamente contrários. Mas conhecendo a linha editorial é possível afirmar que a revista se identifica principalmente com a ideologia política de direita.
A questão que deve ser refletida é, quem identifica a linha editorial destes veículos mesmo eles não sendo claros com relação a isso? Seriam cientistas políticos e estudiosos que se dedicam aos estudos e análises, ou apenas críticos que não têm as suas pautas preferidas sendo abordadas? O que vale mais para estes veículos, um posicionamento político específico ou o lucro que eles podem tirar de pautas que interessam a maioria?
Particularmente falando, acredito que o problema vai além da polarização esquerda X direita, é preciso entender que o “lucro” é a terceira e mais importante das ideologias para estes veículos. Muitas vezes não interessa quem está errado, mas sim quantos vão comprar a notícia para divulgar os crimes do seu inimigo. Conservadores dirão que a maioria dos jornalistas são de esquerda, e o contrário também acontecerá, mas a verdade é que o jornalista (que tem essa profissão como seu sustento) quer vender o seu furo, pelo maior preço e nível de circulação possíveis.